sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Vicious Traditions


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome que o mantivera:
O menino da sua mãe

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe.Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço...Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há prece:
Que volte cedo, e bem!
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


"O Menino de Sua Mãe" - Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

«Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
.......
Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar..»

Adriano Correia de Oliveira