sábado, 19 de janeiro de 2008

Mãos Dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
[ janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
[ homens presentes,
a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

"...se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não partisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
(...)
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos teus olhos."

Joaquim Pessoa, in "OS OLHOS DE ISA"

Bela fotografia: mãos... docemente amarradas.