segunda-feira, 31 de março de 2008
Não Toques Nos Objectos Imediatos
domingo, 30 de março de 2008
Oh As Casas As Casas As Casas
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
ela morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
respirei - ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
ela morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
respirei - ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo
sábado, 29 de março de 2008
Eu Falo Das Casas e Dos Homens
|
Adolfo Casais Monteiro
quarta-feira, 26 de março de 2008
terça-feira, 18 de março de 2008
segunda-feira, 17 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
La Nuit n'est Jamais Complète
La nuit n'est jamais complète.
Il y a toujours puisque je le dis,
Puisque je l'affirme,
Au bout du chagrin une fenêtre ouverte,
Une fenêtre éclairée.
Il y a toujours un rêve qui veille,
Désir à combler, faim à satisfaire,
Un cœur généreux,
Une main tendue, une main ouverte,
Des yeux attentifs,
Une vie, la vie à se partager.
Paul Eluard
sábado, 15 de março de 2008
Uma Pequenina Luz
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha
Jorge de Sena
sexta-feira, 14 de março de 2008
Romance Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna, e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas, ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam...
Detrás de grossas paredes, de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda, sem peso de ação nem de hora...
- e estais no bico das penas,
- e estais na tinta que as molha,
- e estais nas mãos dos juizes,
- e sois o ferro que arrocha,
- e sois barco para o exílio,
- e sois Moçambique e Angola!
Ai, palavras, ai, palavras, ídeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto, promessas que o mundo sopra...
Ai, palavras, ai, palavras, mirai-vos: que sois, agora?
- Acusações, sentinelas, bacamarte, algema, escolta;
- o olho ardente da perfídia, a velar, na noite morta;
- a umidade dos presídios,
- a solidão pavorosa;
- duro ferro de perguntas, com sangue em cada resposta;
- e a sentença que caminha,
- e a esperança que não volta,
- e o coração que vacila,
- e o castigo que galopa...
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
- sois madeira que se corta, sois vinte degraus de escada,
- sois um pedaço de corda...
- sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
- sois um homem que se enforca!
Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna, e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas, ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam...
Detrás de grossas paredes, de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda, sem peso de ação nem de hora...
- e estais no bico das penas,
- e estais na tinta que as molha,
- e estais nas mãos dos juizes,
- e sois o ferro que arrocha,
- e sois barco para o exílio,
- e sois Moçambique e Angola!
Ai, palavras, ai, palavras, ídeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto, promessas que o mundo sopra...
Ai, palavras, ai, palavras, mirai-vos: que sois, agora?
- Acusações, sentinelas, bacamarte, algema, escolta;
- o olho ardente da perfídia, a velar, na noite morta;
- a umidade dos presídios,
- a solidão pavorosa;
- duro ferro de perguntas, com sangue em cada resposta;
- e a sentença que caminha,
- e a esperança que não volta,
- e o coração que vacila,
- e o castigo que galopa...
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
- sois madeira que se corta, sois vinte degraus de escada,
- sois um pedaço de corda...
- sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
- sois um homem que se enforca!
Cecília Meireles
quinta-feira, 13 de março de 2008
quarta-feira, 12 de março de 2008
terça-feira, 11 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
domingo, 9 de março de 2008
Uma Certa Quantidade
Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá
E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar
Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro
de gente à procura duma certa quantidade
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá
E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar
Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro
Mário Cesariny
sábado, 8 de março de 2008
Recordar
Sê como o Sol para a Graça e a Piedade.
Sê como a noite para encobrir os defeitos alheios.
Sê como uma corrente de água para a generosidade.
Sê como a morte para o ódio e a ira.
Sê como a Terra para a modéstia.
Aparece tal como és.
Sê tal como pareces.
Se pudesses libertar-te, por uma vez, de ti mesmo,
o segredo dos segredos abrir-se-ia para ti.
O rosto do desconhecido, oculto além do universo,
apareceria no espelho da tua percepção.
Na realidade, a tua alma e a minha são o mesmo.
Aparecemos e desaparecemos um com o outro.
Este é o verdadeiro significado das nossas relações.
Entre nós, já não há nem tu, nem eu.
O vale é diferente, acima das religiões e cultos.
Aqui, em silêncio, baixa a cabeça.
Funde-te na maravilha de Deus.
Aqui não há lugar para religiões nem cultos.
Há uma Alma dentro de tua Alma. Busca essa Alma.
Há uma jóia na montanha do corpo. Busca a mina desta jóia.
Oh, sufi que passa!
Busca dentro, se podes, e não fora.
No amor, não há alto nem baixo,
má conduta nem boa,
nem dirigente, nem seguidor, nem devoto,
só há indiferença, tolerância e entrega.
Rumi
sexta-feira, 7 de março de 2008
A Vida Que Eu Escolhi
No próximo dia 10 de Março, segunda-feira, as primeiras 10 reservas online receberão uma edição especialmente autografada por Tony Carreira. Promoção exclusiva para compras online.
A Autobiografia com fotos de um dos maiores fenómenos da música portuguesa.
História da vida do Tony Carreira, das suas humildes origens rurais, até à consagração como grande estrela da música ligeira. A vida na Beira Interior, os seus antepassados, a emigração para França, a sua paixão pela música, os seus ídolos, a sua devoção pela mulher e pelos filhos constituem um testemunho emocionante na primeira pessoa.
Textos de Rui Pedro Brás.
in "Newsletter Bertrand" de 7 de Março de 2008
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