sábado, 29 de dezembro de 2012
Ultra Violet (Light My Way) - U2
When I was all messed up and I heard opera in my head
Your love was a light bulb hanging over my bed
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
sábado, 17 de novembro de 2012
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Beauty
You shouldn’t hide
From what we are
A pair of souls
One heart, one smile
One life
From what we are
A pair of souls
One heart, one smile
One life
"Urma - All Wrong"
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
"Ever since my house burnt down, I see the moon more clearly..."
"I gazed upon all the Edens that have fallen in me, I saw Edens
that I had held in my hands but let go, I saw promises I did not keep,
pains I did not throw, wounds I did not heal, tears I did not share.
I saw deaths I did not mourn, prayers I did not answer, doors I did not open, doors I did not close, lovers I left behind, and dreams I did not live.
I saw all that was offered to me that I could not accept.
I saw the letters I wished for but never received.
I saw all that could have been but never will be. "
I saw deaths I did not mourn, prayers I did not answer, doors I did not open, doors I did not close, lovers I left behind, and dreams I did not live.
I saw all that was offered to me that I could not accept.
I saw the letters I wished for but never received.
I saw all that could have been but never will be. "
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
On a Night As Long
On a night as long
As the long, drooping tail on
The copper pheasant
Dwelling in the steep mountains,
Am I, too,
meant to sleep alone?
Kakinomoto Hitomaro
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Loving You,
Loving you, my heart may shatter into a thousand pieces,
but not one piece will be lost.
Izumi Shikibu
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Plum Trees Blooming Near The Stream
Each spring it seems I
shall confuse reflections in
the flowing stream with
flowers and again I’ll drench
my sleeves seeking to pluck those boughs
shall confuse reflections in
the flowing stream with
flowers and again I’ll drench
my sleeves seeking to pluck those boughs
Lady Ise
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
domingo, 7 de outubro de 2012
Each of The Rain Drops Has a Tale to Tell
Each of the rain drops has a tale to tell
about the sorrows of people
about the hardships living things go through
about the arrival of sparrows.
about the sorrows of people
about the hardships living things go through
about the arrival of sparrows.
Bochō Yamamura
My Keepsake
My keepsake—
Look at it and think of me,
and I will love you
through the long years
strung out like beads on a string.
Look at it and think of me,
and I will love you
through the long years
strung out like beads on a string.
Kasa no Iratsume
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
There is Not Even a Moment of Calmness
There is not even a moment of calmness.
In the heart that loves the blossoms,
the wind is already blowing.
In the heart that loves the blossoms,
the wind is already blowing.
Izumi Shikibu
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Color of The Flower
Color of the flower
Has already faded away,
While in idle thoughts
My life passes vainly by,
As I watch the long rains fall.
Has already faded away,
While in idle thoughts
My life passes vainly by,
As I watch the long rains fall.
Ono no Komachi
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
To Nara's Brook Comes Evening
To Nara's brook comes
Evening, and the rustling winds
Stir the oak-trees' leaves.
Not a sign of summer left
But the sacred bathing there.
Evening, and the rustling winds
Stir the oak-trees' leaves.
Not a sign of summer left
But the sacred bathing there.
Fujiwara no Ietaka
terça-feira, 2 de outubro de 2012
From The Monastery
From the monastery
On Mount Hiei I look out
On this world of tears,
And though I am unworthy,
I shield it with my black sleeves.
On Mount Hiei I look out
On this world of tears,
And though I am unworthy,
I shield it with my black sleeves.
Daisojo Jien
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
An Autumn Eve:
An autumn eve:
See the valley mists arise
Among the fir leaves
That still hold the dripping wet
Of the chill day's sudden showers.
See the valley mists arise
Among the fir leaves
That still hold the dripping wet
Of the chill day's sudden showers.
Jakuren Hoshi
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Just Because She Said
Just because she said,
"In a moment I will come,"
I've awaited her
Until the moon of daybreak,
In the long month, has appeared.
"In a moment I will come,"
I've awaited her
Until the moon of daybreak,
In the long month, has appeared.
Sosei Hoshi
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
The Waves Are Gathered
The waves are gathered
On the shore of Sumi Bay,
And in the gathered night,
When in dreams I go to you,
I hide from people's eyes.
On the shore of Sumi Bay,
And in the gathered night,
When in dreams I go to you,
I hide from people's eyes.
Fujiwara no Toshiyuki
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
You Are Gone
You are gone,
transformed in an instant
into clouds,
and I feel as though
in a dream of old.
Anónimo
- tradução do Japonês por Helen Craig McCullough
terça-feira, 25 de setembro de 2012
When it Becomes Night
like the mountain birds
that part and sleep
in sad loneliness,
what a long,
long night
I may sleep
in sad loneliness.
Kakinomoto no Hitomaro
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
Though I Go To You
Though I go to you
ceaselessly along dream paths,
the sum of those trysts
is less than a single glimpse
granted in the waking world.
Ono no Komachi
sábado, 22 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
domingo, 2 de setembro de 2012
domingo, 26 de agosto de 2012
O Tempo Seca o Amor
O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
Cecília Meireles
sábado, 25 de agosto de 2012
Frank Sinatra - I've Got You Under My Skin
Just the thought of you
Makes me stop just before I begin
Makes me stop just before I begin
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
terça-feira, 21 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
"You wake up at Seatac, SFO, LAX. You wake up at O'Hare, Dallas-Fort Worth, BWI. Pacific, mountain, central. Lose an hour, gain an hour. This is your life, and it's ending one minute at a time. You wake up at Air Harbor International. If you wake up at a different time, in a different place, could you wake up as a different person? "
domingo, 5 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
domingo, 29 de julho de 2012
sábado, 28 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
Estou Doente. Meus Pensamentos Começam a Estar Confusos,
Estou doente. Meus pensamentos começam a estar confusos,
Mas o meu corpo, tocando nas coisas, entra nelas.
Sinto-me parte das coisas com o tacto
E urna grande libertação começa a fazer-se em mim,
Uma grande alegria solene como a de um acto heróico
Pondo a vis no gesto sóbrio e escondido.
Mas o meu corpo, tocando nas coisas, entra nelas.
Sinto-me parte das coisas com o tacto
E urna grande libertação começa a fazer-se em mim,
Uma grande alegria solene como a de um acto heróico
Pondo a vis no gesto sóbrio e escondido.
Alberto Caeiro
sábado, 21 de julho de 2012
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical --
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força --
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés -- oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos da estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos pianos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de l'Opera que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer,
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes --
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes --
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamento, políticas, relatores de orçamentos;
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta.)
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o amor antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hó jóquei que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos -- e eu acho isto belo e amo-o! --
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje. . . )
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia, eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Álvaro de Campos
sexta-feira, 20 de julho de 2012
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Deixei Atrás Os Erros Do Que Fui,
Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exacto nem feliz.
Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.
Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.
Fernando Pessoa
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Esse é Um Génio, é o Que é Novo é (...)
Esse é um génio, é o que é novo é (...)
Outro é um deus, e as crianças do mundo não lhe cospem na cara.
Queria ser uma pedra, não aspiro a mais, quero
Ser uma coisa que não possa ter vergonha nem desespero,
Fui rei nos meus sonhos, mas nem sonhos houve, além de mim
E a última palavra que se escreve nos livros é a palavra Fim.
Álvaro de Campos
domingo, 15 de julho de 2012
A Novela Inacabada
A novela inacabada,
Que o meu sonho completou,
Não era de rei ou fada
Mas era de quem não sou.
Para além do que dizia
Dizia eu quem não era...
A Primavera floria
Sem que houvesse Primavera.
Lenda do sonho que vivo,
Perdida por a salvar...
Mas quem me arrancou o livro
Que eu quis ter sem acabar?
Fernando Pessoa
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