terça-feira, 21 de abril de 2009

Os Bens de Sangue...


(Improviso)

– Quando soube de ti,
já eras morto;
nem nunca tive em mim palavra tua
que não me fora dada
de outra boca;
vives em mim como os
santos sobre as abóbadas de ouro
nestes antigos templos,
onde o amor é demais para tão
simples lembrança
ou mera construção de fantasia,
mas reconheço em mim a trajetória secular,
a herança de honra e sangue, traçada muito antes desta ausência
mesmo sem nunca ter te visitado
os ossos,
ou
o teu rosto
nos retratos.

Silvério Duque,
"OS BENS DE SANGUE, HEREDITARIEDADE E OUTROS ATAVISMOS:
UMA ELEGIA EM BUSCA DO TÚMULO
DE MEU PAI,
AMARÍLIO DE SOUZA DUQUE."

2 comentários:

Unknown Soldier disse...

Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Ana disse...

Um belo post e, não menos belo, comentário!!