terça-feira, 26 de outubro de 2010

Morphine - Sharks




Don't let your fingers dangle in the water...

Arre, Que Tanto é Muito Pouco!

























Arre, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto.

Agora começa o Manifesto:
Arre!
Arre!
Oiçam bem:
ARRRRRE!

Álvaro de Campos

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ora Porra!

























Ora porra!
Então a imprensa portuguesa é
que é a imprensa portuguesa?
Então é esta merda que temos
que beber com os olhos?
Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.

Álvaro de Campos

PEC 4 - Janeiro de 2011

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Parfum Exotique
















Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d’automne,
Je respire l’odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu’éblouissent les feux d’un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l’œil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l’air et m’enfle la narine
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.

Charles Baudelaire

Eyes Wide Shut

Shostakovich - Jazz Suite No. 2: VI. Waltz 2

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Talking Heads - Once In A Lifetime

Tard Dans La Vie






















Je suis dur
Je suis tendre
Et j'ai perdu mon temps
A rêver sans dormir
A dormir en marchant
Partout où j'ai passé
J'ai trouvé mon absence
Je ne suis nulle part
Excepté le néant
Mais je porte caché au plus haut des entrailles
A la place ou la foudre a frappé trop souvent
Un coeur ou chaque mot a laissé son entaille
Et d'où ma vie s'égoutte au moindre mouvement

Pierre Reverdy

sábado, 9 de outubro de 2010

i carry your heart with me
























i carry your heart with me (i carry it in my heart)
i am never without it
(anywhere i go you go,my dear;and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear no fate(for you are my fate,my sweet)
i want no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart(i carry it in my heart)

E.E. Cummings
Imagem: "The Meeting On The Turret Stairs", de Frederick William Burton

Mudam-se os tempos, permanecem as vontades - e a falta delas.















Cascais, 7 de Setembro de 1914.

Meu jovem camarada e amigo: - Pede-me V. um artigo para o seu jornal A Restauração. Esse pedido eu o agradeço e me apresso a satisfazê-lo porque o considero um testemunho de solidariedade e de simpatia prestado pela sua valorosa e combativa geração, que é a geração dos meus netos, à encanecida e aposentada geração a que eu pertenço.

A orientação mental da mocidade contemporânea comparada à orientação dos rapazes do meu tempo estabelece entre as nossas respectivas celebrações uma diferença de nível que desloca o eixo do respeito na sociedade em que vivemos obrigando a élite dos velhos a inclinar-se rendidamente perante a élite dos novos.

Em face da batalha de sentimentos e de ideias no conflito português dos nossos dias entendo que à ala dos veteranos cabe o dever marcial de apresentar as suas antigas armas a essa nova ,ala de namorados, que se não batem já pelo perecível prestígio da sua dama mas pela beleza imortal da sua convicção, e batem-se não em combate fortuito, de torneio de gala, mas em pugnas regulares e sucessivas em que quotidianamente arriscam os seus interesses, a sua liberdade e a sua vida os redactores dos modernos jornais monárquicos e os de publicações periódicas de tão considerável importância filosófica e educativa como a Lusitânia, a Nação Portuguesa, Aqui d'El-Rei, os Cadernos de Mariotte, a Alma Portuguesa, a Crónica Política, a Entrevista, etc.

A incontestável superioridade dessa plêiade estudiosa consiste em ter admiravelmente pressentido a necessidade culminante da reeducação integral do povo português.

Combater apenas o analfabetismo do povo por meio de escolas primárias e de escolas infantis sem religião e sem Deus, não é salvar uma civilização, é derruí-la pela base por meio do pedantismo da incompetência, da materialização dos sentimentos e do envenenamento das ideias. Quem ignora hoje que foi a perseguição religiosa e o domínio mental da escola laica o que retalhou e fraccionou em França a alma da nação? Quem é que nesse tão amado, tão generoso e tão atribulado país não está vendo hoje objectivar-se praticamente o profético aforismo de Le Bon: «É sobretudo depois de destruídos os deuses que se reconhece a utilidade deles!»

Quanto é comovente e elucidativo comparar as nossas modernas instituições com o quadro da evolução da terceira República francesa ainda há pouco delineado por Paul Bourget, o eminente pensador de quem disse Anatole: «Ele é o mais filósofo de todos nós.»

«Como não cotejar – escrevia muito recentemente Bourget – o programa da terceira República, idealizado por tantos patriotas sinceros, com o quadro da nossa presente decadência! Um parlamento tão impotente como desonrado; costumes públicos dia a dia mais degradados; a perseguição religiosa alternativamente a mais brutal e a mais hipócrita; um corpo de mestres envenenando as gerações novas, essa reserva viva do futuro, por meio de um ensino de demissão colectiva e de nefasta utopia; o exército sistematicamente corrompido pela política, humilhado em trabalhos de baixa política, enfraquecido pelo sobrelanço eleitoral, a ponto de que os chefes mais respeitados desaparecem para não serem cúmplices de um atentado contínuo contra a defesa nacional; a guerra social incessantemente prestes a rebentar em episódios sangrentos; a anarquia moral precedendo e anunciando a anarquia civil e administrativa, cujos pródromos são sensíveis por toda a parte... Enfim, para que prolongar este paralelo entre a República tal como ela funciona, como não poderia deixar de funcionar; e a República tal como a sonharam os melhores dos nossos antepassados?»

Em Portugal somos hoje um povo medonhamente deseducado pela inepta pedagogia que nos intoxica desde o princípio do século XIX até os nossos dias.

O Marquês de Pombal teve a previsão desta crise quando por ocasião da expulsão dos jesuítas ele procurou explicar que o aniquilamento da Companhia de Jesus não decapitaria a educação nacional porque os eruditos padres da Congregação do Oratório vantajosamente substituiriam como educadores os jesuítas expulsos.

Com a influência intelectual dos oratorianos, introdutores do espírito criticante de Port Royal na renovação da mentalidade portuguesa, condisse realmente o advento de um dos mais brilhantes períodos da nossa erudição.

Vieram, porém, mais tarde os revolucionários liberais de 34, os quais condenaram, espoliaram e baniram os padres da Congregação do Oratório como Pombal espoliara e banira os padres da Companhia de Jesus.

A obra liberal de 1834 – convém nunca o perder de vista – foi inteiramente semelhante à obra republicana de 1910. Nos homens dessas duas invasões é idêntico o espírito de violência, de anarquismo e de extorsão. Dá-se todavia entre uns e outros uma considerável diferença de capacidade.

Os de 34, de que faziam parte Herculano, Garrett e Castilho, eram espíritos oriundos da Academia da História, da livraria das Necessidades e do colégio de S. Roque.

Tinham tido por mestres ou por companheiros de estudo homens tais como António Caetano de Sousa, o autor da História Genealógica; Barbosa Machado, o autor da Biblioteca Lusitana; Bluteau e os colaboradores do seu Vocabulário; Santa Rosa de Viterbo, o autor do Elucidário; João Pedro Ribeiro, o admirável erudito iniciador dos altos estudos da nossa história e precursor de Herculano; António Caetano do Amaral, o infatigável investigador da História da Lusitânia; D. Frei Caetano Brandão, seguramente o mais elevado espírito e a mais formosa alma que deitou o século XVIII em Portugal; o padre Cenáculo, o mais prodigioso semeador de bibliotecas; o padre António Pereira de Figueiredo, o autor do famoso Método de estudar; Félix de Avelar Brotero, o insigne naturalista; o polígrafo abade Correia da Serra, e outros que não menciono porque teria de reproduzir um copioso catálogo se quisesse dar mais completa ideia do que foi a cultura portuguesa nessa fase da nossa evolução literária.

Os novos revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais de 34. E daí para trás - o que quer dizer daí para cima - nunca abriram um livro com medo da infecção clerical, porque todos eles acreditam com fetichistico ardor que o clericalismo é o inimigo, segundo a fórmula célebre com que o príncipe de Bismarck conseguiu sugestionar Gambetta para a irremediável desmembramento moral da França.

Tal a razão por que os raros homens de letras que a nossa República conseguiu mobilizar dia a dia se desagregam da hoste refugiando-se no anacoretismo filosófico, enojados da crassa ignorância dos sarrafaçais a que o regime os emparelhou. Como Nietzsche, perante a grosseira petulância da Alemanha depois da hegemonia que lhe conferiu a vitória de 1870, os desiludidos da República Portuguesa apetecem, como requeria Nietzsche, que se criem novos ermitérios onde os homens que pensam se enclausurem e se separem para todo sempre dos homens que governam.

Atolados há mais de um século no mais funesto dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de que a unidade nacional, a harmonia, a paz, a felicidade e a força de um povo não têm por base senão o rigoroso e exacto cumprimento colectivo dos deveres do cidadão perante a inviolabilidade sagrada da família, que é a célula da sociedade; perante o culto da religião, que é a alma ancestral da comunidade, e perante o culto da bandeira, que é o símbolo da honra e da integridade da Pátria. Em pleno século XX, muito depois de inteiramente refutada pela moderna crítica histórica a supersticiosa lenda da Revolução Francesa, revolucionámo-nos nós para o fim de abolir todos esses velhos deveres e de adoptar como um evangelho novo a estafada, ensanguentada e enlameada Declaração dos direitos do homem, como se à frágil e efémera criatura humana fosse lícito invocar qualquer espécie de direitos perante as leis inexoráveis e eternas que implacavelmente regem toda a ordem universal! E para o fim de pormos em plena evidência essa ilusão retórica aclamamos uma sexta República nova dezenas de anos depois de sucessivamente abolidas as outras cinco a cuja existência deu origem o extinto prestígio da Revolução, e das quais nem sequer já sobrevivem os nomes. Quem se lembra hoje do que foram a Batávica, a Cisalpina, a Ligúrica ou a Partenopeia?

Quebramos estouvadamente o fio da nossa missão histórica. Desmoralizamo-nos, enxovalhamo-nos, desaportuguesamo-nos.

Pelos processos improvisados e caóticos em que vivemos sucessivamente nos desenraizamos do torrão paterno, desandando e retrocedendo da ordem ascendente e lógica de toda a evolução social, principiando por substituir o interesse da Pátria pelo interesse do partido, depois o interesse do partido pelo interesse do grupo e por fim o interesse do grupo pelo interesse individual de cada um. É a marcha da dissolução, marcha rapidíssima para o aniquilamento, porque é inteiramente aplicável à vida social a lei biológica de que toda a decomposição orgânica dá origem a seres parasitários cuja função é acelerar e completar a decomposição.

Escrevo estas linhas em face da mais pavorosa onda de sangue e de lágrimas que parece encapelar-se das profundidades do desconhecido para subverter o mundo. Perante um tão descomunal conflito de violência e de força parece-me indubitável que o desfecho da actual conflagração europeia não poderá ser senão a refutação absoluta do dogma democrático da liberdade, da igualdade e da fraternidade humana. A lição final da guerra será na humanidade assim como o é na natureza o simples triunfo implacável do que pode mais sobre o que pode menos.

Não nos precipitemos a amaldiçoar a brutalidade de um tal destino enquanto não reflectirmos no que é realmente a força e de que natureza são os tão complexos elementos integrados nesse fenómeno global.

De quantos vícios e de quantas farroncas se compõe uma fraqueza? De quantas virtudes ignoradas e recônditas se constitui uma força humana?

Bem exíguo, bem frágil, bem desacompanhado do mundo era o pequeno Portugal que no espaço de cem anos, entre o século XV e o século XVI, se assenhoreou no globo de um império territorial e marítimo consideravelmente superior àquele a que aspira a hegemonia germânica dos nossos dias.

À ponta da espada Portugal submeteu nada menos de trinta e três reinos, a que ditou a lei e que tornou tributários do seu soberano; dilatou o domínio português às mais vastas regiões da Ásia e da América, deixando ainda aos seus missionários e aos seus portadores de civilização através do mundo o tempo e a serenidade precisa para concomitantemente escreverem doze gramáticas e dezassete dicionários de línguas orientais até então desconhecidas, além de muitas dezenas de obras. diversas, por meio das quais, antes de mais ninguém, ele ensinou à Europa a geografia física e a geografia política do Oriente e da África.

Porquê? Porque pelas virtudes guerreiras dos seus navegadores e dos seus soldados, pelo saber dos seus letrados e dos seus monges, pela disciplina do seu povo, pelo exemplo dos seus Reis no campo de batalha, a Portugal coube então o privilégio desse direito que tanto nos confrange quando exercido pelos outros – o direito da força.

Defenda-nos Deus por sua misericórdia da hora de perigo nacional em que tenhamos de perguntar onde estão os descendentes e os representantes dos antigos homens de Ourique, de Aljubarrota, de Ceuta e de Diu.

Bem sei que nesse transe o actual Chefe do Estado será bastante competente para desembainhar a sua espada de guerra e de justiça, abotoar a sua sobrecasaca de comparecer e proclamar às tropas que, através da batalha, no caminho do dever e da honra elas sigam os oito reflexos do seu mavórcio e reluzente chapéu alto.

Presumo que S. Ex.ª é tão idoso como eu. Creio porém que esta circunstância em nada alterará o belo gesto patriótico que confiadamente espero do seu valor. Quando a Pátria chame às armas os seus filhos, que importa a idade! Não são os mais ou menos breves dias que cada um tem para existir o que a Pátria nos requer, é simplesmente a vida, a vida do indivíduo, que é da raça e da nação que o criou, assim como a seiva da árvore é da terra em que vive.

De cabelos brancos – ruços, como diz Azurara – eram todos os chefes militares da expedição de Ceuta. No Conselho que D. João I reuniu em Torres Vedras para expor o seu plano de conquista, João Gomes da Silva, notando que todas as cabeças eram brancas, exclamou: Quando eu, Senhor, não sei al que diga senão – ruços além! O que equivalia a dizer: Avante os velhos!

E foi com esse entusiástico grito de guerra que se levantou o conselho.

Mais tarde, quando no Porto o Infante D. Henrique recebia os contingentes da expedição, os batalhões dos besteiros com os seus anadéis, as levas dos concelhos e as mesnadas dos fidalgos, apresentou-se-lhe, à frente dos seus homens, o meu conterrâneo Aires Gonçalves de Figueiredo, que então contava noventa anos de idade, e vestia as armas de ponto em branco, lança em punho, cota resplandecente ao sol, pluma do elmo ondulando ao vento.

Notando o Infante a desproporção entre o cansaço dos seus dias e o esforço do seu ânimo, Aires Gonçalves respondeu:

– Sei bem que estou mais para morrer que para batalhar, mas fui companheiro de armas de El-Rei vosso pai e as exéquias que para mim mais desejo são as de ter acabado combatendo ao seu lado.

Assim se passavam as coisas no tempo em que havia reis e vassalos, ricos-homens, cavaleiros, peões e besteiros, prelados e monges, mosteiros e solares, estradas com cruzeiros e igrejas com santos.

Não calculo bem como em análoga contingência as coisas passariam hoje ou como passarão amanhã sob a égide de um governo aperfeiçoado, em companhia dos seus senadores, dos seus deputados, dos seus ministros, dos seus livres-pensadores, dos seus pedreiros-livres e da sua formiga branca.

E com esta incerteza me recolho ao meu buraco – in angello cum libello. Adeus, meu amigo. Lembre-me afectuosamente a todos os seus esforçados companheiros de luta e a todos comunique o estreito e comovido abraço que lhe envia o seu dedicado confrade.

Ramalho Ortigão, in "Últimas Farpas", Clássica Editora.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Márta Sebestyén - Szerelem Szerelem

Esta Gente






















Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ectenia



Milueşte-ne pe noi, Dumnezeule, după mare mila ta, rugămu-ne ţie, auzi-ne, şi te îndură spre noi. Încă ne rugăm pentru mila, viaţa, pacea, sănătatea, mântuirea, cercetarea, lăsarea şi iertarea de păcate a servului (servilor) lui Dumnezeu (cutare), şi pentru ca să se păzească sfânt lăcaşul acesta, şi toată comuna (tot oraşul sau satul), de ciumă, de foamete, de cutremur, de foc, de sabie, de venirea altor neamuri asupra noastră, şi de războiul cel dintre noi; şi pentru ca blând, milostiv şi lesne iertător să fie bunul şi iubitorul de oameni Dumnezeul nostru şi să întoarcă toată mânia, ce este pornită împotriva noastră, şi să ne scape de urgia, care pe dreptate e asupra noastră, şi să se îndure spre noi.

Doamne îndură-te spre noi.

Auzi-ne pe noi, Dumnezeule Mântuitorul nostru, nădejdea tuturor marginilor pământului, şi a celor ce sunt pe mare departe, şi milostive părinte, milostiv fii pentru păcatele noastre, şi Te îndură spre noi.

Masked Ball - Jocelyn Pook

Soy






















Soy el que sabe que no es menos vano
que el vano observador que en el espejo
de silencio y cristal sigue el reflejo
o el cuerpo (da lo mismo), del hermano.
Soy, tácitos amigos, el que sabe
que no hay otra venganza que el olvido
ni otro perdón. Un dios ha concedido
al odio humano esa curiosa llave.
Soy el que pese a tan ilustres modos
de errar, no ha descifrado el laberinto
singular y plural, arduo y distinto,
del tiempo, que es uno y es de todos.
Soy el que es nadie, el que no fue una espada
en la guerra. Soy eco, olvido, nada.


Jorge Luis Borges

terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Jean Gabin - Je Sais

Ad Nauseam

São Rosas, Senhor....


O centenário da República vai marcar todo o ano de 2010. O historiador Fernando Rosas aceitou falar ao i sobre essa revolução "tão lusitana" em que o principal chefe militar, almirante Cândido dos Reis, se suicida porque julga a revolução perdida, e um despenseiro da Marinha e grande carbonário, Machado Santos, vai de eléctrico para a revolução e leva a República à vitória. Fernando Rosas defende que a República falhou a sua principal missão, a de democratizar o país.

Cem anos depois, já se pode falar da República sem tabus?
Há certos temas históricos que vão sempre dividir as águas entre os portugueses. Na história não tem de haver consenso. Há sempre certas visões historiográficas que representarão o Marquês de Pombal, a República ou o Estado Novo de certa maneira e outras doutra. Haver separação de águas acerca do balanço que se faz das personagens históricas é uma coisa perfeitamente normal.

O Presidente da República disse que não queria que o centenário servisse para dividir os portugueses. Isso é possível?
Com o devido respeito, acho que o Presidente da República conhece mal a história da República e limita-se a reproduzir lugares-comuns das correntes que têm visões mais conservadoras da República. Vai haver sempre, até que a memória da República se perca, pessoas detractoras da República, pessoas defensoras da República, memórias favoráveis e memórias desfavoráveis. O Presidente da República com certeza que não deseja que acerca de um acontecimento qualquer relevante da História haja uma única interpretação, como havia durante o Estado Novo. É absolutamente salutar que haja uma grande polémica sobre o significado histórico da República. Não é por isso que se diminui a República, antes pelo contrário.

Mas vamos conseguir comemorar a Carbonária, a organização terrorista que implantou a República?
Não concordo com o termo "terrorista". A República foi feita pela massa urbana de Lisboa, a plebe urbana de Lisboa, como lhe chama Vasco Pulido Valente naquele que foi o melhor livro que se escreveu sobre o 5 de Outubro, "O Poder e o Povo". É preciso perceber que a sociedade portuguesa no último quartel do século XIX estava a sofrer profundíssimas alterações, que explicam a decadência da monarquia. O regime estava totalmente desadequado às transformações dos finais do século XIX, à industrialização e à urbanização daí decorrente. A Lisboa acorre uma grande massa de população rural que vem trabalhar nas indústrias. E aparecem os serviços, criando uma pequena burguesia urbana, que tem os seus dirigentes naturais nas novas profissões liberais, advogados, engenheiros, médicos. O republicanismo é o partido das novas classes médias urbanas, excluídas do sistema político, do sistema liberal oligárquico da monarquia. O que é o Partido Republicano? É a nova classe média emergente das transformações do século XIX que busca o seu lugar na política e nos negócios. Estabelece, através da Carbonária, uma espécie de maçonaria popular, a ligação com a plebe urbana de Lisboa, que são os operários, os vendedores ambulantes, uma miríade de profissões informais. Esta gente desconfia do Partido Republicano, que considera burguês, mas através da Carbonária é conquistada para a infantaria do republicanismo radical. Ou seja, aquela parte do republicanismo que quer fazer a revolução, porque há uma parte que não quer.

A ala moderada do Partido Republicano convivia bem com a monarquia?
Sim, era reformista. Achava que a República seria fruto de uma pedagogia lenta, a prazo. O republicanismo, enquanto ideologia, entendia que a passagem do indivíduo de súbdito de sua majestade a cidadão livre da República se fazia pelo acesso à cultura, à educação. Daí o papel central que a instrução pública tem. Seria um trabalho de pedagogia lenta e prolongada. A ideia de assalto ao poder por via revolucionária só surge na República após o ultimato de 1890.

A República é patriótica...
Colonial, patriota. Daí a matriz colonialista da República. O primeiro ensaio revolucionário para derrubar a monarquia é o 31 de Janeiro de 1981, precisamente um ano depois do Ultimato.

Mas nós devemos ou não devemos a revolução à Carbonária?
A Carbonária é a estrutura matricial da Revolução. É uma acção revolucionária de massas que organiza a revolução em Lisboa, na Loja Montanha, por acordo entre os maçons republicanos radicais que querem a revolução e os maçons que, além de republicanos e radicais, são carbonários. Luz de Almeida, António Maria da Silva e Machado Santos formam a Alta Venda da Carbonária. Todos eles são da Loja Montanha. E é numa grande assembleia da Loja Montanha que se decide criar uma comissão para preparar militarmente a revolução. Mesmo assim, essa decisão defronta grandes resistências no interior do Partido Republicano. Só num congresso realizado em 1909, em Setúbal, é que a maioria do Partido Republicano se decide pelo apoio à revolução e entrega a preparação da revolução a uma comissão militar que, na realidade, é a Alta Venda da Carbonária. É a organização da Carbonária que, quando tudo corre mal no 5 de Outubro, está no terreno, fica no terreno e ganha. Ganha sobretudo por desistência do poder monárquico.

Acha que vamos conseguir agora homenagear a Carbonária?
Não se trata de homenagear a Carbonária, trata-se de homenagear a República. Mas eu não tenho problema nenhum em homenagear a Carbonária! A Carbonária foi uma organização revolucionária, popular, que conquistou o poder pelas armas, contra um poder oligárquico que tinha criado um sistema institucional que não cairia senão pelas armas. A Carbonária é uma organização decisiva neste período. Tem 20 a 30 mil pessoas organizadas na Grande Lisboa. É uma coisa espantosa, do ponto de vista da penetração de uma organização política secreta na massa urbana de Lisboa! A Carbonária organizava tudo quanto era activo naqueles bairros populares de Xabregas, do Beato, de Alcântara, na Margem Sul. Porque é que na Margem Sul se declarou a República logo no dia 4? Na cintura de Lisboa a Carbonária toma o poder de véspera, sem nenhuma dificuldade. Em Lisboa é que há resistência, é onde está o rei e as Forças Armadas. É a Carbonária que obriga o Partido Republicano a ir para a revolução! É a Carbonária que pressiona o directório! A ala moderada do Partido Republicano resiste à revolução, desde logo porque tinham medo da Carbonária!

Para todos os efeitos, a Carbonária era uma organização terrorista...
Não lhe chamaria assim... A expressão terrorista tem hoje conotações que não se adaptam exactamente à Carbonária. Punha bombas, realmente. Tinha infiltrações anarquistas e bombistas. Sabe- -se pouco sobre a Carbonária, não deixou um arquivo, não tinha uma sede. Mas os grupos carbonários tinham uma autonomia própria. Não é rigoroso dizer que é a Carbonária que decide matar o rei, mas seguramente um grupo de carbonários decide matar o rei. Os carbonários não desaparecem em 1910, transformam-se numa espécie de milícia informal do Partido Republicano, da ala de Afonso Costa, a ala mais jacobina. E mantém as mesmas características.

Uma espécie de milícia do regime?
Uma milícia informal do afonsismo, sem dúvida nenhuma. Essas redes populares, secretas, de indivíduos que têm armas e vêm para a rua combater vão estar presentes durante toda a República. No pós--guerra, essa milícia vai funcionar a favor de uma novidade que é a esquerda republicana. O Partido Republicano é bastante conservador do ponto de vista social. O afonsismo é jacobino e anticlerical, mas Afonso Costa era conhecido como o "racha-sindicalistas".

Portanto, não era de esquerda.
Essa designação de esquerda e de direita é difícil de empregar com rigor ao republicanismo de antes da guerra. O Afonso Costa é o homem do equilíbrio orçamental em moldes conservadores, equilibrou o orçamento com a mesma técnica do Salazar.

E reprimiu os sindicalistas?
Os sindicalistas foram reprimidos na República toda, com altos e baixos. A República nasceu aos ombros dos trabalhadores, mas depois rompeu essa aliança a partir de 1911, quando começam as greves e os republicanos espingardeiam as greves, com muita violência, mortos, prisões sem julgamento e, a seguir à guerra, deportações para África. É preciso perceber que nem tudo foi a ditadura militar que começou. A ditadura militar refinou instrumentos que é a República que inaugura, como as deportações sem julgamento para África dos suspeitos de pertencerem à Legião Vermelha, uma organização que não se conhece bem hoje. Alguns são executados sumariamente na rua pela polícia. Apesar de a greve ser teoricamente permitida, houve muita gente morta, sindicatos encerrados, jornais apreendidos. A história da República é pautada por grandes gestos de repressão em relação ao movimento sindical.

Ouve-se falar mais da repressão contra o país católico.
Mas contra os sindicatos foi bem pior do que contra os católicos! Existiu uma perseguição aos católicos e aos monárquicos, mas é preciso dizer que os católicos e os monárquicos desde a primeira hora conspiram activamente contra a República! E a República responde.

Mas isso não matou a República, tanto a lei da separação entre a Igreja e o Estado como aquilo a que muitos chamam o terror das ruas?
O "terror" é um exagero. Não partilho nada desse ponto de vista. O terror! Como se fosse o terror jacobino da revolução francesa! A República está longe de ser uma democracia política, é um regime que prolonga o liberalismo oligárquico da monarquia. A luta dos republicanos é contra o trono e o altar. O trono e o altar são indissociáveis. O acesso do indivíduo à luz do conhecimento estava associado ao combate às trevas do clericalismo. A Igreja era o esteiro ideológico do antigo regime. A República nasce sobre a ideia do progresso técnico e científico. A lei de 1911 é mais que isto, é uma tentativa de subjugar a Igreja ao Estado. Há naturalmente um exagero inaceitável nas nacionalizações do património da Igreja, que deu um argumento à Igreja para mobilizar o mundo rural contra a República. A República comete dois erros logo de início que são mortais. Primeiro corta-se do movimento operário, que é a sua base de apoio nas grandes cidades. Faz do movimento operário um inimigo, sendo que era um dos pilares de sustentação da república urbana. E o segundo grande erro é que, ao perseguir da maneira que o fez a Igreja Católica, permite a mobilização do mundo rural contra a república urbana. E facilitou o cerco da reacção eclesiástica, e não só, contra a cidade republicana. Erro que vão reparar mais tarde, mas que pagarão muito caro. Exemplo: o governo atribui-se a si próprio o poder de censurar todos os documentos que a Igreja emitia. No quadro de uma lei de separação, é totalmente absurdo! Mais do que separação, foi a tentativa de subjugação da Igreja ao poder do Estado que se voltou contra a República.

São dois erros de Afonso Costa.
E o terceiro também é dele: a entrada na guerra. A espantosa irresponsabilidade com que um país subindustrializado, atrasado, analfabeto, vai participar na guerra tecnologicamente mais avançada que a humanidade até aí tinha tido. Homens analfabetos há três gerações a manusear instrumentos bélicos, a ter de ler instruções para usar uma máscara de gás e outras coisas do género. Um país que não frequenta a escola, onde há 70 por cento de analfabetos, como é que está preparado para a guerra? E essa foi uma tragédia brutal do ponto de vista humano e financeiro. E a República não vai sobreviver ao impacto económico e social da guerra. O desastre da participação da guerra precipita a crise da república no pós-guerra.

O que se passou naquele 5 de Outubro quando o Almirante Reis se suicida?
Como historiador não me fica bem dizer isto, mas há um acto muito lusitano na preparação da revolução. Falhou tudo. Só não falhou o assalto aos barcos. Os marinheiros ocupam o Adamastor e o São Rafael e, no dia seguinte, salvam o D. Carlos, que entretanto foi tomado. Depois de tomar o Rafael e o Adamastor, deveriam disparar uma ou duas salvas de canhão que seriam ouvidas no Cais do Gás, junto ao que é hoje o Museu de Electricidade. Ao ouvir o sinal, o almirante Reis embarcaria para tomar o comando militar da revolução a bordo do D. Carlos. Mas não se sabe o que aconteceu. Sabe-se que o almirante Cândido dos Reis tinha, dias antes, empenhado não só a sua honra como a sua vida no desencadear da revolução. Não tendo ouvido os tiros e tendo notícia de que as outras unidades não tinham saído de Lisboa, ficou desesperado - ele era um homem muito instável - e saiu dali. Foi para aquelas azinhagas que existiam à volta do que é hoje a Praça do Chile e suicidou-se com um tiro na cabeça. Repare que dois dos principais dirigentes operacionais da revolução morreram dia 4 para dia 5. Miguel Bombarda é assassinado por um doente.

Mas Miguel Bombarda estava directamente envolvido nas operações?
Era um dos dirigentes operacionais. Ele estava a atender os doentes no hospital, aparece um doente e dá-lhe um tiro nos intestinos. Só que demora tempo a morrer e, no leito de agonia, vai passando planos, papéis e estratégias da revolução aos seus assistentes. Era um homem decisivo para a revolução. Tanto que, com o seu assassinato, se põe o problema de a revolução não sair. O certo é que sai. O processo era imparável e o próprio almirante Reis já se tinha comprometido. Mas só há duas unidades que saem - a Infantaria 16, de Campo de Ourique e Artilharia 1, que era a grande unidade de artilharia. A estratégia era fazer convergir essas unidades no Palácio das Necessidades que foi atacado do quartel dos marinheiros. Os marinheiros é que eram o braço armado da República.

E porquê os marinheiros?
Os marinheiros estavam ligados ao operariado, à zona ribeirinha, ao Porto de Lisboa. E os marinheiros não falharam. O quartel dos marinheiros era muito importante. É dali que subiram para assaltar o Palácio das Necessidades, que é defendido pelas divisões de lanceiros. Há ali em toda aquela zona de Alcântara uma luta terrível, pois houve um contra-ataque em massa contra o quartel de marinheiros que se defende com a população, com a artilharia civil que lança bombas nos pés dos cavalos, das janelas, dos telhados e assim se foram aguentando.

Entretanto, onde estava a infantaria?
A Infantaria 16 de Campo de Ourique e uma coluna da Artilharia 1 também tinham recebido ordens para marchar em direcção ao quartel, mas não conseguem lá chegar porque a guarda municipal intercepta-os. Juntam-se ali ao pé do Largo do Rato e resolvem ir para a Rotunda do Marquês onde montam uma barricada para se defenderem dos assaltos dos guardas municipais pela Avenida da Liberdade acima. E é assim que a Rotunda se torna num espaço de referência da revolução, é um lugar estratégico, o local onde se articulava a cidade velha, limitada a norte pelos Restauradores e a cidade burguesa, que está a nascer, a cidade das Avenidas Novas, que ia até Entrecampos. A Rotunda fica num alto e era um anfiteatro estratégico sobre a cidade. Eles descobrem as potencialidades da Rotunda na altura e no local.

Quem era Machado Santos, o homem que depois da fuga dos oficiais acaba por chefiar a revolução?
É um homem curiosíssimo. Era um carbonário, um grande organizador sobretudo na marinha e no exército. É ele que traz para a revolução os cabos, os sargentos e toda aquela gente que enquadra a população civil. É preciso ver que a certa altura estão 150 militares na rotunda e 500 civis - carbonários todos. As ligações da cidade estavam todas minadas por eles e a tropa monárquica não conseguia deslocar-se para nenhum lado de Lisboa. O Machado Santos era um homem pouco importante na hierarquia da Marinha, era comissário naval, tratava dos abastecimentos. O engraçado é que ele vai de eléctrico para a revolução, vestido com a farda de gala, até Campo de Ourique onde se junta ao grupo de carbonários que assalta Infantaria 16.

E como passa a chefiar as operações?
Quando no dia 4 pela manhã chega a notícia da morte do almirante Reis ao acampamento da Rotunda, os militares vão-se todos embora.

Acham que a revolução está perdida.
Sem almirante, sem chefes, sem hierarquia sentem-se perdidos. Mas Machado Santos fica e pergunta quem é que quer ficar. E são os carbonários que ficam com ele. Ou seja, os sargentos, os cabos, a população civil. Ficam todos, menos os oficiais que se vão todos embora.

A vitória deve-se a Machado Santos...
E à Carbonária. Ao povo carbonário.

É uma revolução popular.
Completamente. E é uma revolução, não é um golpe de Estado.

Machado Santos desaparece completamente da História.
Acontece muito aos chefes militares.

Tragados pela revolução...
Sim. Ele foi operacionalmente importante, pela coragem. Mas depois tornou-se um ressabiado da República. Forma o Partido Renovador e começa a conspirar activamente. Apoiante do Sidónio, é preso. É morto na noite sangrenta (1921).

Quem é o seu republicano favorito?
Eu aprendi história da República à mesa de casa da minha mãe. O meu avô era um grande republicano, conservador, mas um grande opositor ao salazarismo. Tenho pena de não ter um gravador naquela altura, porque ele passava os almoços todos a contar histórias da República. Tinha conspirado, tinha sido várias vezes preso, foi um homem que teve uma grande importância na minha vida.

Como se chamava?
Filipe Mendes. Portanto, tinha uma certa familiaridade com esta gente. Tenho uma grande admiração pelos republicanos sobretudo quando se tornam resistentes à ditadura. O meu avô foi um dos dirigentes civis da revolução de 27. Esteve cercado no Terreiro do Paço, fugiu com o Aquilino Ribeiro às costas, ferido com os estilhaços de uma granada. Eu ouvia aquilo extasiado. Tenho uma admiração muito grande por esses homens, sobretudo os que foram coerentes, que lutaram até ao fim pelo ideal republicano. Mas acho que a República falhou no essencial: democratizar o país. Acabou por ser um prolongamento agónico do sistema liberal e não a reforma democrática do sistema liberal. Não a regeneração democrática do liberalismo, mas a agonia do liberalismo oligárquico, abrindo o caminho à reacção.


http://www.ionline.pt/conteudo/40011-fernando-rosas-a-republica-falhou-no-essencial-democratizar-o-pais---video

domingo, 3 de outubro de 2010

Unkle - Keys To The Kingdom



I shoot it low, kill the flow
Ruin myself out on the north shore
I make it one, watch the sun
Sink behind the trees with the keys to the kingdom

I shoot it high, let it fly
Bury myself under a blue sky
I see a scheme, make it clean
Drown in blue rivers under a muffled scream

Call your number wishing I could make amends
And I'm caught in a space between my head and my face again

I hit it down, kill the sound
Ruin myself out on the northbound
I make it one, kill the sun
Bury my disease with the keys to the kingdom

Call your number wishing I could make amends
And I'm caught in a space between my head and my face again

I shoot it low
- Shoot. it. low
Kill the flow
- Kill. the. flow
Ruin myself out on the north shore

Call your number wishing I could make amends
And I'm caught in a space between my head and my face again

Call your number wishing I could make amends
And I'm caught in a space between my head and my face again

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.


O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a República é que não estava. Grandes são as virtudes (de) coesão nacional e de brandura particular do povo português para que essa anarquia que está nas almas não tenha nunca verdadeiramente transbordado para as coisas!
Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos, de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime a que, por contraste com a Monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
A Monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis de família, a lei de separação da Igreja do Estado — todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.
A Monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a República que veio multiplicou por qualquer coisa – concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) – os escândalos financeiros da Monarquia.
A Monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A República veio e criou dois ou três estados revolucionários. No tempo da Monarquia, estava ela, a Monarquia, de um lado; do outro estavam, juntos, de simples republicanos a anarquistas, os revolucionários todos. Sobrevinda a República, passaram a ser os republicanos revolucionários entre si, e os monárquicos depostos passaram a ser revolucionários também. A Monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a República instituiu a desordem múltipla.
É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira , não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na Monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na República não era possível, porque era perigoso insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.
O sociólogo pode reconhecer que a vinda da República teve a vantagem de anarquizar o país, de o encher de intranquilidade permanente, e estas coisas podem designar-se como vantagens porque, quebrando a estagnação, podem preparar qualquer reacção que produza uma causa mais alta e melhor. Mas nem os republicanos pretendiam este resultado nem ele pode surgir senão como reacção contra eles.
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
Este regime é uma conspurcação espiritual. A Monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a República veio a ser.


Fernando Pessoa, in "Da República"
- Editora Ática, Lisboa, 1979

http://arquivopessoa.net/typographia/textos/arquivopessoa-3239.pdf



domingo, 19 de setembro de 2010

Assovio















Ninguém abra a sua porta
para ver que aconteceu:
saímos de braço dado,
a noite escura mais eu.

Ela não sabe o meu rumo,
eu não lhe pergunto o seu:
não posso perder mais nada,
se o que houve já se perdeu.

Vou pelo braço da noite,
levando tudo que é meu:
— a dor que os homens me deram,
e a canção que Deus me deu.

Cecília Meireles

Leonard Cohen - Seems So Long Ago, Nancy

sábado, 18 de setembro de 2010

Belo Belo

















Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo - que foi? passou - de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manuel Bandeira

Death In Vegas - Girls

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tudo o Que Sou Não é Mais do Que Abismo

















Tudo o que sou não é mais do que abismo
Em que uma vaga luz
Com que sei que sou eu, e nisto cismo,
Obscura me conduz.

Um intervalo entre não-ser e ser
Feito de eu ter lugar
Como o pó, que se vê o vento erguer,
Vive de ele o mostrar.

Fernando Pessoa

domingo, 12 de setembro de 2010

"With You In My Head"















You keepin on a holdin',
A-holdin' on a-keepin,
No giving into taking more but still still feedin',
You're clearly disturbed,
All you want is allegiance
Hear them what you saw
You hear them what you saw
You hear them what you saw
You hear them with believin'
Oh holy holy water washing over the soul

Collecting all the people you love to sing you a song
Even if they stick to humming
Holding on a song to see them
When you're really sick-a sick-a sick of love
Leaving with their heart
To shape them within
Even if they stay to running
Hold 'em on the soul, believing
Till you wanna stick-a stick-a stick to love

When you went down, the men came callin'
Changing to stone as you wept from fallin
When you went down, the men came callin'
Speaking in tongues we've all been summoned.
Ride, you wait to hug the shoal, you hate the thought, you're so-so.
You seem so dark to cry.

Oh, we're ready, honey
I got all the skills
You've given all our love for you
Everything you taught me honey
It never even mattered, really
It's all of our love for you

With you in my head
With you in my head

With you in my head

When you went down, the men came callin'
Faded in stone as you wept from fallin
When you went down, the men came callin'
Singing in tongues, it makes things summoned.

Oh, we're ready, honey
I got all the skills
You've given all our love for you
Everything you taught me honey
It never even mattered, really
It's all of our love for you

I hope that I'm ready, honey
I got all the skills
You've given all our love for you
Everything you taught me honey
It never even mattered, really
It's all of our love for you
UNKLE (feat. The Black Angels)

Penso Em Ti No Silêncio da Noite, Quando Tudo é Nada

















Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.

Todo o passado, em que foste um momento eterno
E como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.

Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa;
Ou um povo omitido do mundo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e árvores e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.

Álvaro de Campos (1933)

Withyouinmyheadwithyouinmyheadwithyouinmyhead



"With You In My Head" - UNKLE

domingo, 5 de setembro de 2010

Brian Eno - By This River

Entre o Sono e Sonho





















Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa

The Wrestler

sábado, 4 de setembro de 2010

Rêve Oublié























Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.

António Maria Lisboa

Dream On - Café del Mar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

U2 - Stories For Boys

Meninos da Sétima Rua
















Tenho saudades do que é breve
e vai para além dos barcos.
Esvai com a alvorada.

Saudades do menino cálido,
que se perdeu nos campos
entre o cais e o beco
e a tenra ilusão dos fósseis.

Saudades daquele menino:
amante das ruas,
andarilho das tardes.
O meu menino.
Eu mesmo.

Rudinei Borges

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Dead Can Dance - Saltarello

Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos
















Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.
Quis pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas — um livro fechado
Em cada ataúde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas,
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?

Pedro Homem de Mello

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lisbon Revisited

















Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos

Electric Litany - Tear

domingo, 29 de agosto de 2010

The National - Fake Empire



...
Turn the light out say goodnight
no thinking for a little while
lets not try to figure out everything at once
It's hard to keep track of you falling through the sky
we're half-awake in a fake empire...

Autofagia




















Minhas
lágrimas à noite,
se escondem nos bares,
onde derramo dores
que escorrem lúpulo


Os meus
sonhos de dia,
eu guardo em retalhos
que embrulham lágrimas
de vários tamanhos


Os meus
anseios acoplam,
consuetudinários,
nos meus escaninhos,
buscando fórmulas de envelhecer


E ainda
agora, a minha aura
esqueceu a hora de avisar
meus sonhos, que se foram
embora sem pedir licença.

José Telles

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vae Victis























"No ano em que se comemora o centenário da instauração da República em Portugal, a Alêtheia Editores publica um importante documento histórico que revela a versão monárquica dos acontecimentos de 5 de Outubro de 1910, escrita por um dos protagonistas do momento, Joaquim Leitão, escritor, historiógrafo e autor de vários volumes sobre os últimos anos da monarquia portuguesa.
Esta edição é acompanhada de um prefácio de Vasco Pulido Valente, um dos maiores especialistas em história da Primeira República Portuguesa."

cfr. http://causamonarquica.com/2010/08/23/diario-dos-vencidos-joaquim-leitao/
e
http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1645557&seccao=Livros

Moby - Porcelain

Tudo Quanto Sonhei se Foi Perdido






















O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.

Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.

Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,

Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.

Francisco Bugalho

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

hey wait I've got a new complaint



Nirvana - Heart Shaped Box

Esta Velha Angústia












Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

Álvaro de Campos

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Loved it.

It's in my honey, it's in my milk.




The National- Sorrow

Lei













O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.

O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.

O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.

O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e. entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual.
de desejo e de desespero.

Cecília Meireles

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Beck - "Nausea"



Now I'm a seasick sailor
On a ship of noise
I got my maps all backwards
And my instincts poisoned
In a truth blown gutter
Full of wasted years
Like blown-out speakers
Ringin' in my ears

Oh it's nausea, oh nausea
And we're gone
It's nausea, oh nausea
And we're gone

Now I'm a straight-line walker
In a black-out room
I push a shopping cart over
In an Aztec ruin
With my minion fingers
Working for some God
Who could see his own reflection
In a parking lot

Oh it's nausea, oh nausea
And we're gone
No it's nausea, oh nausea
And we're gone

Now I'm a priest teenager
On a tower of dust
I'm a dead generator
In a cloud of exhaust
I eat alone in the desert
With skulls for my pets
I rate the days, one to ten
With lead cigarettes

It's nausea, oh nausea
And we're gone
It's nausea, oh nausea
And we're gone

A Angústia Insuportável de Gente























Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo,
A banalidade devorante das caras de toda a gente!
Ah, a angústia insuportável de gente!
O cansaço inconvertível de ver e ouvir!

(Murmúrio outrora de regatos próprios, de arvoredo meu.)

Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto,
Estômago da alma alvorotado de eu ser...

Álvaro de Campos

sábado, 21 de agosto de 2010

Peter Murphy - Deep Ocean Vast Sea

Sea-Wash


















The sea-wash never ends.
The sea-wash repeats, repeats.
Only old songs? Is that all the sea knows?
Only the old strong songs?
Is that all?
The sea-wash repeats, repeats.


Carl Sandburg

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Círculo















Tracei um círculo por sobre a terra.
Era uma estranha, mística forma
Onde eu pensei que, muitos, houvera
Símbolos mudos que a mudança enforma
E da Lei, fórmulas complicadas
Que, do ventre da Mudança, são estradas.

Meu simples pensar em vão quis parado
O correr desta loucura à revelia,
Mas meu pensamento está condenado
Ao símbolo e à analogia:
Julguei que um círculo encerrasse inteiro
Em calma, a violência do mistério.

E assim, em cabalístico jeito,
Ali tracei um círculo, curioso;
O círculo traçado era imperfeito
Embora em sua forma, cuidadoso.
Profundamente, da magia ao falhar,
Lição tirei que me fez suspirar.

Alexander Search