Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
António Maria Lisboa
1 comentário:
"Perhaps someone is dreaming me -
That's why my gestures
Are so soft
And unfinished,
With their aim forgotten
Half-way,
Grotesquely,
That's why my outlines get blurred
Second by second
And my deeds melt...
And perhaps the one who's dreaming me
From time to time is plucked
From sleep,
Awoken,
Carried by force into
His true life,
That's why I darken
Suspended sometimes
As from a thread that melts with snow,
Without knowing
If he will fall asleep again
So that something might happen to me
Again."
Ana Blandiana, in "The Hour of Sand"
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