sexta-feira, 16 de março de 2007

László Almásy


"Amo o deserto. Amo a infinita extensão das miragens trémulas, o vento, os picos escarpados, as cadeias de dunas como rígidas ondas do mar. E amo a simples, a rude vida de um acampamento primitivo no frio gélido, à luz das estrelas na noite, e nas calorosas tempestades de areia."

László Almásy in "O Sahara Desconhecido"

László Almásy nasceu em Borostyank, Hungria, em 1895, no seio de uma familia aristocrática mas sem título nobiliárquico.
Combateu na Primeira Guerra Mundial, como piloto da Força Aérea, recebendo várias condecorações. Participou na restauração da monarquia na Hungria, tendo conduzido a viatura que levou o Rei Carlos IV a Budapeste, desde o exílio, tendo recebido das mãos do monarca o título de Conde e a sua gratidão.
Após a guerra, dedicou-se às suas duas grandes paixões: os automóveis e o deserto.
Assim, ao serviço da marca áustriaca "Steyr AutomobileWerke", realizou em 1926 um teste de resistência aos seus veículos, completando o trajecto entre Alexandria, no Egipto, e o Sudão, ao longo do rio Nilo.
Em 1929, com dois veículos Steyr, percorreu 12.000 km ao longo do Norte de África. Redescobriu a antiga rota de caravanas que ligava o Egipto ao resto de África - uma antiga rota de escravos à qual só os mais fortes sobreviviam, denominada "Rota dos Quarenta" -o número de dias que durava o percurso.
No deserto da Líbia, Almásy ouviu as antigas lendas beduínas sobre o oásis perdido de Zerzura, local mágico e secreto, repleto de ouro e jóias e guardado por um pássaro branco, onde apenas aos mais valorosos era permitido entrar. Ali jazia uma rainha adormecida, que só poderia ser acordada com um beijo.
Almásy, fluente em seis idiomas - incluindo o árabe - logrou as boas graças do Rei do Egipto, e o Príncipe Kemal El Din converteu-se em seu mecenas na busca de Zerzura.
Após várias vicissitudes, e na sequência de esforços desenvolvidos por Patrick Clayton -que encontra a entrada do vale principal, Wadi Abd El Malik, e o explora, Almásy chega ao oásis de Kufrah e explora o segundo vale, Wadi Sura.
Em Março de 1933, à cabeça de uma equipa internacional (o Comandante Penderel, Arnold Hoellriegel (jornalista austriaco), Hans Casparius (fotógrafo alemão) e Laszlo Kadar (geógrafo húngaro) cartografa as zonas Este e Sul do Gilf Kebir, e descobre a Passagem de Aqaba.
Em Abril regressa ao Oásis de Kufrah, e, a partir dali, descobre o Wadi Talh - o terceiro vale de Zerzura.
A velha lenda tornava-se realidade, e o Conde Almásy desenhava Zerzura no mapa.
Em seguida explorou o poço de água de Ain Dua, nos Montes Uweinat, a Sul do Gilf Kebir, na confluência das modernas fronteiras da Libia, Egipto e Sudão. Essa zona tinha sido explorada em 1923 por um egípcio, SirAhmed Hassanein Bey, que descobriu nas paredes rochosas pinturas rupestres de girafas e antílopes.
Almásy descobriu uma nova gruta, cujas paredes estavam repletas de pinturas rupestres, representando aqueles e outros animais. Mas o aspecto mais sensacional da descoberta foram as pinturas de homens a nadar: no meio do deserto do Sahara, a escassos quiilómetros do Grande Mar de Areia, havia água, há milhares de anos. As pinturas fizeram sensação no mundo científico, e foram provavelmente a mais importante descoberta de Almásy.
Nos anos seguintes, Almásy dirigiu novas expedições ao deserto, em especial à zona do Gilf Kebir, Grande Mar de Areia e ao Wadi Hawar, no Sudão. Entretanto, trabalhava no Egipto como instrutor de vôo.
Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, teve que abandonar o Egipto, e regressou a Budapeste. Como Capitão da Força Aérea Húngara, combateu integrado no Afrika Korps de Rommel, realizando importantes missões, dado ser um profundo conhecedor do deserto.
Finda a guerra, foi julgado pelo Tribunal do Povo em Budapeste como criminoso de guerra, sendo absolvido por falta de provas.
Em 1947 regressou ao Egipto e começou a organizar uma expedição em busca do exército do rei persa Cambises, que Heródoto dava como perdido no Grande Mar de Areia, no século V A.C.
No entanto, não pôde levar avante este projecto: a morte surpreendeu-o em Salzburgo, em 1951. Três semanas depois, foi nomeado a título póstumo Director do Instituto do Deserto do Cairo.
É em László Almásy, homem que escapa a qualquer classificação, que se baseou a personagem do romance de 1992 " O Paciente Inglês", de Michael Ondaatje, desempenhada em 1996 no grande écran por Ralph Fiennes.

Sem comentários: